Dívidas II
Existe uma
tendência de se achar que o limite de crédito é algo que nos
pertence. Essa ilusão é extremamente perigosa. Nada é mais eficiente
para que percamos o controle sobre nossa vida do que fazer dívidas. O
fato de que todo mundo faça isso não é consolo para ninguém; como
podem perceber aqueles que perderam o poder sobre suas vidas.
Antigamente
a pessoa virava escravo por uma força maior. Alguém invadia e
dominava uma cidade, transformando todos em escravos. Depois disto a
pessoa teria de conseguir dinheiro para comprar a própria liberdade.
O que era praticamente impossível, já que tudo que a pessoa fazia era
do dono dela. Hoje as coisas são mais sutis, mas o sistema é o mesmo.
Não é preciso dominar ninguém à força. Basta a persuasão de usar o
crédito que se dá para uma pessoa. Esse crédito é oferecido cada vez
mais de todas as formas possíveis e imagináveis. Como a lenda do
canto da sereia até que a pessoa caia na rede.
Alia-se a
isso a auto-ilusão e autossabotagem da esperança de que tudo irá
melhorar, os clientes aparecerão, as vendas aumentarão, os negócios
darão certo, de que se vai ganhar o que nunca se ganhou, de que
receberá o que devem para si e outras infinitas formas de
auto-ilusão. Então se toma o crédito acreditando que é dinheiro
próprio. Não se pensa que aquilo é mais uma dívida. E são muitas
dívidas. Um crediário aqui outro ali. Uma prestaçãozinha aqui e mais
outra ali. Quando a pessoa soma todas as prestações e dívidas vê que
o orçamento está totalmente comprometido. Daí começa a fase final da
falência. Busca mais crédito (dívida) para pagar as outras dívidas.
Girando cada vez mais dívidas até que estoura completamente a sua
capacidade (sic) de crédito (endividamento). E ai é o fim. Torna-se
uma não-pessoa. A pior maldição acontece: seu nome vai para o rol dos
maus pagadores. Todas as portas se fecham, pois todos consultam esse
cadastro para saber quem é a pessoa.
Normalmente
cria-se uma atenuante para que a pessoa saia deste cadastro. Ela
refinancia tudo e está pronta para se endividar mais. Isto é, está
liberada para ter mais crédito (divida), pois seu nome está “limpo”.
Aprender a
lição acima sai muito caro. Em alguns casos mais de 10 anos pagando
dívida que consome todos os recursos da pessoa. Isso para aqueles que
conseguem pagar.
Existe uma
compulsão por consumo que leva a pessoa a menosprezar o perigo do
endividamento. Isso é estimulado subliminarmente da maneira mais
eficaz possível. Todas as carências são amenizadas por um tempo com
mais consumo. Mas, como é um vicio volta em pouco tempo e é preciso
consumir mais. Ad infinitum.
Qual a
atitude para evitar isso? Auto-estima no mais alto grau. Ter amor
próprio, ter instinto de sobrevivência, ter a própria liberdade como
a prioridade máxima da vida. Pois sem esta liberdade tudo o mais está
perdido. Ter consciência dos próprios atos e compulsões. Soltar os
apegos. Assim evita-se a armadilha do endividamento.
É possível
libertar-se depois que se caiu nisso? Sim, mas precisará de muito
trabalho e poupança para sair disto. Muitos nunca conseguem. É
difícil porque para criar prosperidade é preciso ser próspero, isto
é, ter uma consciência de prosperidade. E se a pessoa tivesse isso
não teria entrado na dívida. Portanto, a pessoa está num circulo
vicioso. A sua natureza no momento é de endividar-se. Pensa em dívida
o tempo todo e assim as dívidas aumentam. Mudar no meio da tempestade
é muito difícil, pois tem de mudar todo o magnetismo pessoal para
atrair as situações em que possa ganhar muito para pagar as dívidas.
Ganhar pouco não resolve nada. E como irá ganhar se nunca
ganhou? E a compulsão? Desapareceu? Se isso não é resolvido fará
novas dívidas e nem pagará o valor refinanciado.
Isso
acontece com pessoas, empresas e países. E o resultado é o mesmo.
Sofrimento sem fim.
Hélio
Couto
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